A chegada do envelhecimento costuma impor desafios que vão desde o aparecimento de problemas físicos até a limitação de atividades antes comuns no cotidiano. É nessa época que muitas pessoas decidem parar de trabalhar para viver da aposentadoria, mas essa realidade não apenas não é a única possível, como também tem sido deixada de lado por uma parcela significativa dos baianos. Não à toa, entre o início de 2022 e agosto de 2024, 63.531 empresas chefiadas por empresários acima dos 50 anos foram abertas na Bahia, de acordo com dados que são atualizados mensalmente pela Junta Comercial da Bahia (Juceb).
Somente neste ano, 14.984 empresa chefiadas por empresários acima dos 50 anos foram abertas no estado. Um dos motivos para a inserção tardia no empreendedorismo tem relação com o próprio envelhecimento da população e aumento da expectativa de vida. Atualmente, a população idosa da Bahia corresponde a 10,6% do total de aproximadamente 14,1 milhões de pessoas, segundo dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em números absolutos, a quantidade de idosos baianos praticamente dobrou em relação ao Censo de 2010.
Rosa Correia, CEO do Instituto Amadurecer – iniciativa baiana que prepara adultos para o amadurecimento –, aponta que, frente a esse cenário de envelhecimento populacional, já não cabe às pessoas com mais de 50 anos a conformidade com a aposentadoria. “As pessoas vão precisar complementar renda porque a pirâmide inverteu. Nós temos menos pessoas jovens ativas bancando a Previdência e muito mais pessoas inativas aposentadas recebendo essa Previdência”, constata.
Se por um lado a perspectiva de não poder envelhecer com a garantia de sustento após anos de trabalho é negativa, o que resta de lado bom é a possibilidade se manter ativo. Isso porque, conforme afirma Rosa, a saúde das pessoas mais velhas depende também da capacidade de realização de atividades. “A saúde física, mental e integral só funciona se a pessoa estiver ativa. Colocar alguém nos aposentos e limitar ela apenas a envelhecer vai gerar vários vácuos nesse ser humano, como vazio existencial e falta de permeabilidade na sociedade”, diz.
Para conseguir complementar a renda ou simplesmente manter o dinamismo diário, mais de 250 mil pessoas acima de 50 anos se inscreveram no banco de cadastro da Maturi, empresa paulista que capacita esse público para o mercado de trabalho. O CEO e fundador Mórris Litvak conta que, no primeiro momento, são procuradas vagas em empregos formais, mas durante o processo de capacitação, quem é +50 percebe sua própria possibilidade de gerir um negócio próprio.
“Tem muita gente está numa fase de transição para entender o que é empreender nessa idade e como fazer isso. São pessoas que [receberam recusa em vagas formais e] sofreram preconceito etário, que querem ir atrás de um sonho, ter mais flexibilidade e fazer algo com mais propósito. [...] Junta tanto a necessidade quanto essa vontade por essas novas possibilidades, por isso a procura por empreender nessa fase tem crescido”, ressalta.
O Agenda Bahia é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Tronox e Unipar, apoio institucional da FIEB, Sebrae e apoio da Bracell, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e Ônibus e AuraBrasil, Plano Brasil Saúde, Salvador Bahia Airport, Suzano, Wilson Sons e parceria da Braskem.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo